Projeto Global e Revolução Atual
Ando a escrever sobre estes cinquenta anos do pós 25 de Abril e pós 25 de Novembro. Não sei se publicarei, muito menos onde e quanto. Mas a nomeação da comissária portuguesa para a Comissão da U E fez-me ir a este excerto que liga o Projeto Global de Otelo e o movimento popular do 25 de Abril com a situação atual. Aqui fica.
Em 1974 e em 1975 uma revolução que pusesse em causa o sistema de governo estabelecido na Europa Ocidental após a Segunda Guerra não era e não foi imprescindível à sobrevivência de Portugal, um dos mais pobres e menos desenvolvidos países da Europa, bastava aceitar a independência das colónias e instaurar um regime legitimado por eleições. A Comunidade Económica Europeia, a “Europa connosco”, no slogan de Mário Soares, o político que há cinquenta anos evitou a revolução, representava o porto de abrigo e a esperança de bom acolhimento sem os riscos de aventuras revolucionárias. Otelo estava fora do tempo. Por isso foi então derrotado e por isso é hoje votado ao ostracismo.
Entretanto muito mudou nestes cinquenta anos e hoje a revolução deixou de ser uma proposta extravagante e limitada a um país para passar a ser nos tempos que correm uma questão de sobrevivência da União Europeia.
A União Europeia não sobreviverá enquanto espaço de liberdade e de bem-estar se for um Estado vassalo de uma das superpotências, como território de confronto indireto entre os Estados Unidos, a Rússia e a China, um espaço que não merece a confiança dos BRICS, que corresponde ao antigo Terceiro Mundo, ou ao Movimento dos Não Alinhados, nem terá acesso às suas matérias-primas e aos seus mercados. A União Europeia não sobreviverá sem uma cultura e uma ideologia mobilizadora. Sem um projeto global!
O exuberante e envidraçado Edifício Berlaymont sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, onde se encontram o gabinete do/a presidente e os respetivos gabinetes dos comissários é um castelo de fantasia, dos reinos da Disney, ou do rei Ludwig da Baviera. Tem a consistência de uma bola de sabão. Não possui alicerces que o cravem na terra da realidade. Em caso de ataque ninguém o defenderá. Dele sairão os funcionários, como ratos. Que poder projeta para o mundo o edifício de cristal quando comparado com a Casa Branca em Washington, o Kremlin em Moscovo, ou o Grande Salão do Povo, na Praça de Tiananmen em Pequim, a sede do Congresso Nacional e dos órgãos de poder da República Popular da China?