Carlos Matos Gomes
2 min readJan 28, 2022

Hoje é sexta-feira

Hoje é sábado, amanhã é domingo/ (…) Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo/Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.

(…) Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios/(…) Todos os maridos estão funcionando regularmente/Todas as mulheres estão atentas/Porque hoje é sábado.

Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
(…)Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos. (…) Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia…
Vinicius de Moraes

Lembrei-me deste genial poema de Vinicius de Moares, que vos convida a ler na íntegra nestas vésperas de sábado.

Hoje é Sexta, amanhã será sábado e depois de amanhã será domingo. Esta sequência mantem-se apesar da campanha eleitoral. O calendário deve ter sido das poucas referências civilizacionais que as televisões e os grandes meios de manipulação de massas não deturparam. Vá lá.

Parece-me que esta campanha teve 3 pontos que a distinguiram de todas as anteriores.

Primeiro: as televisões e os grandes meios de manipulação surgiram à luz crua do que o que parece é, como sabres ideologicamente desembainhados e instrumentos de propaganda partidária defensora do neoliberalismo. O resultado destas eleições será um teste à eficácia da propaganda partidária de massas.

Segundo: o «estado social», baseado no compromisso estabelecido no pós-Segunda Guerra na Europa Ocidental, de serviços públicos universais, de previdência e de distribuição de riqueza foi desvalorizado e até vilipendiado enquanto conquista civilizacional e colocado em competição com a lei da selva do neoliberalismo, da sociedade de privilégio e da lei do mais forte. O PSD surgiu com clareza como uma formação neoliberal.

Terceiro: a “normalização” e aceitação de movimentos totalitários, de cariz salvífico e milenarista, populistas, sem princípios, e da cultura de gangue. Organizações deste tipo foram acolhidas como atores respeitáveis na discussão sobre da sociedade portuguesa. Foi-lhes dado lugar à mesa da comunidade, com a cumplicidade dos órgãos de manipulação e a complacência de alguns líderes políticos. Serviram como guarda avançada de uma ideologia de violência ao serviço dos privilégios, que está a renascer.

O resultado do somatório destes três fatores, e da capacidade de discernimento da nossa sociedade, será visível no domingo.

Carlos Matos Gomes
Carlos Matos Gomes

Written by Carlos Matos Gomes

Born 1946; retired military, historian

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