Estados Unidos — A solução indiana
A recusa de Trump de sair da Casa Branca, defendido pelos seus fiéis e o esforço de Biden ao querer ocupá-la, repete situações conhecidas ao longo da história.
A atual situação nos EUA, de duas comunidades incompatíveis no mesmo território, com dois chefes e duas visões do mundo, tem vários paralelos conhecidos, entre eles a divisão da Índia inglesa entre hindus e islâmicos, em 1947, que deram origem à atual União Indiana (hindu), e ao Paquistão (muçulmano).
Os ingleses resolveram o problema com alguma facilidade. Nomearam um lord (Moutbatten) para representar a coroa na transferência de poder para os líderes das duas comunidades (India Partition Act) e um cavalheiro londrino e advogado, que nunca tinha ido à Índia, o também lord Radcliffe, foi chamado para desenhar as fronteiras entre a Índia e o Paquistão. “ Radcliffe não tinha nenhuma ideia acerca da Índia, nem sobre a sua história, cultura ou geografia”, isto segundo qualificados historiadores ingleses. Disseram-lhe apenas que tinha de desenhar uma linha no mapa (uma função como o daquele polvo que adivinhava resultados de futebol). Muçulmanos para cima, hindus para baixo. Milhões de hindus e muçulmanos transferiam-se para um lado e para o outro da linha traçada no mapa por Radcliffe (não se sabe se com os olhos abertos ou fechados). Isto em apenas um mês. Os americanos devem conseguir em menos tempo. É evidente que houve alguma violência, entre um e dois milhões de mortos e catorze milhões de deslocados para acerto de fronteiras, assassínios em massa, raptos, vizinhos e amigos que se mataram, nada a que os americanos não estejam acostumados. Quanto às fronteiras, em vez de um Radcliffe, até podiam ser as da antiga confederação e da união. O importante é separar trumpianos e bidenianos. Há experiências mais recentes, também com conhecidos bons resultados, na ex-Juguslávia, por exemplo.
Entretanto, enquanto Trump se entrincheira defendido pelos seus fiéis e Biden tenta arrombar a porta com a sua tropa, o resto do mundo reorganiza-se. Nada de novo debaixo do Sol, há duas Chinas, dois Congos, duas Venezuelas, duas Líbias, se já houve dois Vietnames, duas Alemanhas, porque não duas Américas e uma guerra civil?