As Warmomgers

Carlos Matos Gomes
5 min readJun 30, 2024

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Warmomger — promotor de guerras — um político ou líder que por principio encoraja uma política de guerra. Belicista. Warmonger é um termo pejorativo usado para descrever alguém excitado para incentivar pessoas ou uma nação a ir à guerra. Monger é uma palavra antiga para um vendedor ambulante. Modernamente o termo Warmonger surgiu numa série de televisão Doctor Who.

Kellie Kallas a primeira ministra da Estónia — uma potência europeia com cerca de 1,3 milhões de habitantes, — habilitada com um curso de negócios — um MBA — sem qualquer experiência política internacional, e um passado pessoal de confronto com o regime soviético de Estaline, casada com um empresário que fez fortuna em negócios com a Rússia (nos bons tempos dos oligarcas) aponta “guerra na Europa” como principal desafio à frente da diplomacia da União Europeia. Numa entrevista à BBC logo após o início da guerra na Ucrânia, Kallas disse que não se deve “cometer o erro” de deixar o governo russo impune pela invasão, pois isso enviaria a mensagem de que “a agressão tem as suas recompensas” (é um facto: a invasão da Palestina e do Iraque aí estão a provar, entre tantos outros exemplos). O Ocidente deve ter como objetivo que a Ucrânia ganhe esta guerra e que Putin a perca. Por quê? Porque se houver algum tipo de acordo de paz e houver algum tipo de Guerra Fria, todos ficam onde estão. Antes de se apresentar para o cargo de representante da diplomacia da União Europeia, Kallas tinha-se oferecido para o cargo de secretária-geral da NATO. No entanto, diplomatas da aliança consideraram Kallas “agressiva demais”. Não serve para a NATO, serve para a União Europeia! Entretanto, Kallas além de agressiva é ignorante: a guerra fria foi uma política de “contenção” e détente, que recebeu o nome de um presidente Harry Truman — doutrina Truman — e foi a pauta da politica internacional até ao final do século XX. Esta é a futura condutora da diplomacia da União Europeia, que tem um mandado de captura emitido pela Rússia, o que confirma, pelo lado da Rússia que não haverá qualquer conversações com a União Europeia, o que para a Rússia já era irrelevante, porque o conflito é com os Estados Unidos.

Há uma frase de autor que desconheço que a nomeação de Kallas e de Von Der Leyen me lembram: É soberano aquele que decide em que armadilha quer cair…

Estas duas funcionárias decidiram a armadilha em que querem (já o fizeram) fazer os europeus cair.

A nomeação de Kallas para este papel demonstra a vitória dos warmonger americanos. Os Estados Unidos podem utilizar a Europa a seu bel-prazer, que Kallas consente e aplaude. Nada de distinto do que aconteceu com Tony Blair relativamente aos Estados Unidos de Bush para a invasão do Iraque. Ursula Von Der Leyen é o verso da moeda de Kallas. Mata e Esfola. Há também versões indígenas como Helena Ferro Gouveia.

O que distingue estas personagens políticas da “extrema direita” europeia? Nada, ou muito pouco. Esta extrema direita liberal de Kallas e Leyen é menos nacionalista e soberanista que a extrema direita tradicional. É mais submissa e vassala. Mais rafeira, no sentido em que ladra muito mas foge e não se bate.

Se a segurança dos cidadãos num dado espaço político é o principal dever de um chefe estas duas criaturas estão nos antípodas. Temos as raposas no galinheiro. Nós somos o galinheiro. Kallas e Von Der Leyen têm histórias pessoais de conflito com a Rússia que elas demonstraram não conseguir ultrapassar por falta de qualidades intrínsecas. Quanto à guerra os militares conhecem o princípio de Sun Tzu, o general chinês que é um clássico desconhecido de Kallas e de Von Der Leyen: “Um soberano jamais deve colocar em ação um exército motivado pela raiva; um líder jamais deve iniciar uma guerra motivado pela ira.”

A nomeação de Kallas e Von Der Leyen para os cargos de topo da União Europeia tem a mesma importância da antiga nomeação dos ajudantes de campo dos generais: nenhuma. Para o Sul Global (BRICS, África, América Latina, Ásia a União Europeia não passa de um apêndice americano. É um dado adquirido. Os europeus é que se atribuem uma importância que já ninguém lhes reconhece. Por isso, ter duas incendiárias na cozinha da União não provoca necessariamente incêndios, porque elas não têm autorização para utilizar os fósforos. Falam.

Falam, mas as duas warmonger deviam responder aos europeus qual será a sua decisão se Trump decidir fechar a torneira da guerra com a Rússia e despedir o menino querido da derrota Zelenski, ou se os russos decidirem fazer umas provocações com armas nucleares táticas. A Kallas tem armas da União Europeia para responder às afirmações que fez de o seu objetivo ser a vitória sobre a Rússia (que é uma das três maiores potências nucleares do planeta!)? As warmongers têm redes de satélites de comunicações e guiamento de misseis de precisão, de médio e longo alcance indispensáveis a um conflito com a intensidade do atual? As warmongers têm armas nucleares? As warmongers têm indústria militar de ponta para ações de guerra no espaço? As warmongers têm reservas de combustível na União Europeia para manter as suas indústrias a funcionar de forma competitiva no mercado global? As warmongers têm alguma política para a relação da União Europeia com a Turquia, que é fulcro de boa parte do que ocorre na Euroásia (Ucrânia) e no Mar Negro. As warmonger têm alguma resposta para o caso do Irão decidir alargar o conflito no Médio Oriente e abrir uma nova frente no Líbano?

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Carlos Matos Gomes
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Written by Carlos Matos Gomes

Born 1946; retired military, historian

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