A tese dos dois Estados — Um com chuva e outro sem chuva
A proposta da ONU, aceite pela comunidade internacional, da coexistência de dois estados na Palestina, após a saída da Inglaterra do vespeiro ali criado após a II Guerra, com a conjugação de interesses do movimento sionista mundial, dos Estados Unidos e da União Soviética, um estado judeu e um estado com o remanescente de palestinianos, foi, desde o início, um logro do género de introduzir uma espécie infestante num dado território — eucaliptos, por exemplo — atribuir uma leira de terra como reserva indígena (carvalhos, ou sobreiros) — e esperar que ambas as culturas convivam em boa paz, que os infestantes respeitem os limites dos autóctones e estes se sintam muito agradados com a invasão. A comparação serve também para os peixes achigãs, vindos do Canadá e lançados nas barragens, que devoraram as espécies indígenas.
É com este conto para pobres de espirito que desde há sete décadas tem sido justificada violência de Israel, eles estão a defender o seu estado: invadindo. O tal estado democrático, o que em termos de interesses estratégicos, de violência e desrespeito pelos direitos dos outros nada vale. Curiosamente, têm sido os ditos estados democráticos — um regime particular desenvolvido na Europa e nas circunstâncias específicas que são conhecidas — que mais invasões têm efetuado nos dois últimos séculos.
A tese da convivência dos dois estados na Palestina recebeu mais uma machadada recentemente, quando alguém decidiu revelar que os democratas israelitas tinham imposto o princípio de divindade da chuva. Agora que surgiram tantos israelitas com cidadania portuguesa, o velho provérbio português de «água deus dará» é contrariado por esses nosssos recentes compatriotas: a chuva que cai nos territórios da Palestina é propriedade dos judeus, representados pelo Estado de Israel, por ser um dom de Jeová aos seus escolhidos. Os infiéis palestinianos não têm direito à água de Jeová e Alá, segundo os judeus, não faz chover! Por isso os guerreiros de Jeová destroem as cisternas atulhando-as de cimento (foto da UOL — notícias.uol.com.br, de 27/07/2023 — isto para os censores do FB), envenenam os poços e as cisternas onde os palestinianos há milhares de anos recolhiam as águas! Uma blasfémia!
Foi assim levantado mais um problema na falácia dos dois estados: como dividir a água que cai, não dos céus, mas das nuvens terrenas, entre o Estado de Israel e o Estado Palestiniano, a criar? Já existiam os murros, as cercas de arame eletrificado, os controlos, agora há a barreira da chuva e das nuvens!
E aqueles a quem até a água das nuvens criadas pela natureza lhes é negada não têm direito a resistir? É terrorismo lutar pela água, como pela terra, como pelas casas, como pelos rebanhos, como pelas oliveiras ou é terrorismo matar à sede, à fome, bombardear indiscriminadamente? É terrorismo um povo cercado atacar instalações militares designadas colonatos, mas é legítima defesa invasores recentes destruírem um território cercado, densamente povoado, para erradicar dali o povo que sempre ali habitou? E como propor dois estados como solução para uma tão velha questão, que chegou a agora à água da chuva, e que já tinha determinado o controlo pela força do rio Jordão pelos israelitas?
Ainda a propósito da falácia dos dois Estados partilhados entre invasores e invadidos: há algum estado Inca, ou azteca ou guarani na América do Sul? Há algum estado Cherokee nos Estados Unidos? E porque não há nenhum Estado Curdo, ou Arménio?
Por fim, na Palestina existe apenas um Estado, os Estados Unidos da América. O Estado de Israel é mais um Estado da União, uma província como a que existiu no tempo dos romanos, com o seu Herodes Antipas, que calha chamar-se agora Netanyahou. Aos Estados Unidos interessa uma província forte nos confins do império. Os palestinianos estão ali a mais. O resto são nuvens, não de água, mas de explosivos, incluindo de fósforo (foto AF). Ambas israelitas.