A Jornada Mundial da Juventude — um grande evento
Os grandes eventos realizam-se desde sempre e no Ocidente os gregos promoveram-nos com os primeiros Jogos Olímpicos, os romanos com as grandes paradas militares e os jogos nos vários coliseus; as religiões criaram factos — aparições e revelações — que originaram peregrinações — a Meca, a Roma, a Jerusalém, a Santiago de Compostela, a Fátima. A moderna sociedade dita civil promoveu grandes eventos, principalmente após a II Guerra Mundial, com a indústria dos festivais de música, de que o pioneiro terá sido o de Woodstock, nos Estados Unidos, com as grandes realizações desportivas, Campeonato do Mundo de Futebol corridas de Fórmula Um, Jogos Olímpicos, entre tantos.
Um grande evento tem sempre uma finalidade para além da que é anunciada, a de promover o convívio entre povos, a harmonia e a paz. Um grande evento é sempre um ato de promoção de uma cultura, de afirmação de um conjunto de valores, um tónico para fortalecer a coesão de um grupo. Um grande evento é sempre um ato de afirmação (de superioridade) contra os outros. (A humanidade vive em competição e não em cooperação). Se a estes objetivos se juntar o lucro, é oiro sobre azul.
A Jornada Mundial da Juventude da Igreja Católica cumpre todos os requisitos dos grandes eventos. Este grande acontecimento foi criado pelo papa João Paulo II, um estratega, para competir no Ocidente com as igrejas evangélicas em expansão acelerada, principalmente nas Américas e também em África, e para competir com o islamismo no resto do mundo.
Um agnóstico pragmático como eu prefere viver numa sociedade culturalmente formatada pelo catolicismo tolerante que é o de hoje, em que possa gozar de liberdade de ser ou não ser crente, de cumprir ou não determinados preceitos de vestuário, interdições alimentares e de sexualidade, de não ser obrigado a pagar dízimos, nem a cantar de braços ao ar, ou de rezar de traseiro empinado e cabeça em terra do que num qualquer outro mundo.
Em defesa da minha liberdade laica sou a favor das Jornadas Mundiais da Juventude Católica e da sua realização em Portugal, mesmo apesar dos incómodos e de ter de pagar alguma coisa por isso. Quanto a pagar por um evento como este, prefiro pagar para as JMJ do que pela manipulação ideológica dos totalitários meios de manipulação de massas financiados pelas grandes corporações financeiras e industriais. Como reparo, deixo o facto da baixa participação de jovens das minorias étnicas, que nas reportagens que vi me parecem pouco representados.
A Igreja Católica está hoje na defensiva, com perda de crentes e de credibilidade, necessita de um reforço de ânimo e estes eventos servem também para isso. É evidente que há muitos oportunistas a aproveitar a ocasião, tipos que tanto estão hoje nesta jornada como poderiam estar há séculos num auto de fé. Tipos que devem ser desmascarados, embora seja impossível evitar a praga de fariseus e de abutres que sempre surgem nestas ocasiões.